por lpslucasps » Seg, 08 Mar 2021, 12:46
Dragon Quest IV: Chapters of the Chosen (Android) | 11/02/2021 | 35:53 | ★★★
A característica mais marcante do game é sua estrutura narrativa: ele é dividido em cinco capítulos, com os quatro primeiros focando-se em um personagem e unindo a história de todos no quinto e último. Isso garante ao game um excelente ritmo — ainda que no finalzinho fique um pouco fadigante, com os inúmeros chefões e dungeons.
Essa estruturação também tem o efeito secundário (que não sei se é intencional ou colateral) de deixar o jogo extremamente acessível. Já que cada capítulo se foca em determinado personagem e cada personagem tem suas peculiaridades, mecânicas novas são introduzidas de forma gradual e isolada. No primeiro capítulo você controla apenas um personagem com foco no combate físico, no segundo você tem uma pequena equipe com uma lutadora, um mago e um clérigo, no terceiro você assume o papel de um mercador que tem que viajar bastante por cidades e comprar/vender itens, etc. No final de tudo, quando todas as linhas narrativas se encontram, o jogador já está com uma party de oito personagens bem versáteis e familiarizado com 1/3 do mundo. O resultado é um excelente jRPG para iniciantes do gênero – sem deixar de entreter veteranos.
Kirby 64: The Crystal Shards (N64) | 14/02/2021 | 5:05 | ★★
Outro Kirby que é "fácil de dar dó". Suas duas características novas (a combinação de poderes e os gráficos 3D) são extremamente subutilizados e o ritmo ainda mais devagar que dos outros games torna a experiência bem entediante.
Loom (DOS) | 16/02/2021 | 2:49 | ★★★★
Não é o melhor jogo da LucasArts (esse seria o clássico The Secret of Monkey Island), mas é certamente o mais lindo. Não me refiro aqui à beleza audiovisual, mas sim artística como um todo. É uma obra com fortíssimo teor autoral, sendo antes de tudo uma forma do Brian Moriarty (designer e roteirista) se expressar. Sendo a expressão artística de um indivíduo específico, não é de se admirar que o resultado seja único mesmo anos depois. Trata-se de um adventure game sem itens, sem inventário, sem árvores de diálogos. Um jogo que mesmo se separando e evitando tudo o que faz do gênero o que é, captura sua essência como ferramenta narrativa por excelência de forma magistral.
Mas para ficar bem claro: audiovisualmente também é uma obra incomparável, e isso considerando não apenas no catálogo da LucasArts. Ouso dizer que ainda não surgiu um exemplo de pixel-art mais incrível que Loom - especialmente a versão EGA, que usa técnicas como dithering e blending de maneira incrível.
Dandara (PC) | 18/02/2021 | 15:36 | ★★★★
Dandara é o melhor jogo brasileiro que já joguei, e também o jogo mais brasileiro que já joguei.
Usar a cultura e folclore brasileiros não é algo novo no mundo dos games, mas os games que joguei que fazem isso sempre dão um tratamento mitológico para esses elementos - eles estão lá para dar aquele toque de originalidade, mas estão distantes da vivência do brasileiro moderno padrão. Não é muito diferente, nesse quesito, da mitologia grega ou nórdica: fascinante e certamente parte da história dos povos que a originaram, mas não parte de nosso cotidiano.
Não há nada de errado com a abordagem mitológica, mas o caminho seguido por Dandara é outro. O uso simbólico da guerreira negra do período colonial pode à primeira vista enganar, mas o jogo quer contar uma história que fale com qualquer brasileiro urbano moderno. Assim sendo, toda a trama se passa em uma urbe brasileira moderna: Belo Horizonte.
Não literalmente, é bom deixar claro. Dandara se passa na cidade de Sal, um lugar mágico e com arquitetura desnorteante que só pode ser trafegado com as habilidades incríveis da heroína. Mas Sal É Belo Horizonte. As ruas, as lojas, as estações abandonadas, até as pichações: tudo é um transplante da Belo Horizonte real, ressignificado e rearticulado para satisfazer essa fantasia urbana sobre liberdade, sonhos e mudança.
Não consigo imaginar um encaixe mais perfeito para essa ambientação do que o gênero de metroidvania. Também não consigo imaginar um complemento melhor do que a original mecânica de movimentação do jogo, em que Dandara navega entre as plataformas saltando e desafiando a gravidade. Sal é desnorteante, caótica e nem sempre faz sentido. É preciso explorar a cidade de ponta a ponta para entendê-la, com caminhos menos óbvios sendo quase sempre os únicos possíveis. Quase sempre seu objetivo é "logo ali" - frase que qualquer mineiro sabe o real significado.
Será que eu gostaria tanto desse jogo se eu não fosse brasileiro e morasse em Belo Horizonte? Provavelmente não. Mas o fato de Dandara se comunicar tão bem com minha realidade e se tornar uma experiência ainda melhor com isso só o torna ainda mais especial.
Kirby: Canvas Curse (NDS) | 19/02/2021 | 3:24 | ★★★½
Facinho e tranquilo como de costume da série, mas sem ofender a inteligência do jogador como Crystal Shard ou Dream Land 3. Usa muito bem a tela de toque e, apesar de poder ser jogado descompromissadamente e não ser muito longo, é lotado de conteúdo extra para quem quiser se dedicar.
Cruise for a Corpse (DOS) | 20/02/2021 | 5:23 | ★★★
Cruise for a Corpse faz algumas coisas muito bem. É um adventure que elimina a famosa sensação de "hum, será que estou no caminho certo?" comum do gênero incorporando a progressão da trama como uma mecânica em si: sempre que você acha um item necessário ou adquire uma informação nova importante, o tempo do jogo avança em incrementos de 10 minutos. A passagem do tempo não serve só para indicar seu progresso no jogo, entretanto. Os personagens mudam de lugar dependendo da hora do dia, com certos eventos só acontecendo em determinados horários. Isso colabora para a sensação de que você está num cruzeiro real, com passageiros aproveitando a viagem a fazendo diversas atividades no decorrer do dia. Auxiliando essas mecânicas interessantes, temos uma interface surpreendentemente moderna e intuitiva para a época, que usa apenas o mouse para interação, deixando de lado as famosas listas de verbos comuns no gênero até fins dos anos 1990.
Sendo um mistério de assassinato, não é de se surpreender que a coleta de informações e a interrogação dos personagens é o grande foco do jogo, com quebra-cabeças ficando no segundo plano. O processo geral é basicamente questionar personagem A, que vai te dizer algo sobre personagem B, que vai te dizer algo sobre C, e assim por diante. Depois de muitas conversas e revelações o mistério começa a tomar forma — e cabe a você, no final de tudo, indicar quem é o assassino.
O que me impede de considerar Cruise for a Corpse um clássico esquecido, antes relegando a ele o posto de um experimento interessante mas falho, é como ele é maçante. Nem sempre as pistas e informações que você coleta são tão óbvias assim, sendo necessário questionar todos os passageiros sobre qualquer nova informação adquirida. Como eles não param quietos no lugar, significa que o jogador tem que visitar todas as salas do navio repetidas vezes até encontrar aquele passageiro específico que vai te dar a informação nova que você precisa — e então repetir o processo de novo e de novo e de novo. Pra piorar, alguns itens essenciais para avançar só aparecem em certas salas depois de determinado horário, então mesmo que um cômodo esteja vazio, você tem que visitá-lo repetidas vezes só para ter certeza que um item importante não apareceu lá.
Bem, pelo menos não tem como seu personagem morrer ou você avançar na trama antes de conseguir os itens/informações necessários, então já é menos estressante que 90% dos adventures da Sierra.
Planet Puzzle League (NDS) | 22/02/2021 | N/A | ★★★
Por "zerado", entenda-se "joguei até o nível mais difícil que consegui e, apesar de que eu provavelmente ainda jogarei mais algumas partidas esporádicas, duvido que vá muito mais longe do que isso".
É um jogo de tile-matching divertido, se encaixando muito bem em numa plataforma portátil e com tela de toque como o NDS. Gosto de como ele inverte a premissa básica de Tetris, com as peças subindo em vez de despencarem do céu. Fora isso, destaque para a primazia áudio-sonora, que é super agradável - nada no nível Lumines ou Tetris Effect, mas distinto o suficiente e com qualidade de sobra se comparado a 90% dos puzzles do gênero.
Gabriel Knight: Sins of the Fathers (DOS) | 26/02/2021 | 9:32 | ★★★★
Quando joguei o remake de Gabriel Knight em 2014, ele imediatamente tomou o posto de melhor point-and-click adventure que já joguei, com sua incrível atmosfera, personagens cativantes e excelente trama. A versão original, de 1993, consegue ser ainda melhor, tendo pixel art primorosa, dublagem fenomenal e puzzles inteligentes e criativos. Um clássico definitivo do gênero.
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Fora isso, entrei numa vibe de graphical adventures em março e comecei os clássicos da Sierra. São jogos curtinhos (alguns dá pra zerar em duas horinhas), que rodam maravilhosamente bem no celular graças ao Scummvm e que são mais focados em narrativa e puzzle, o que é perfeito para mim, já que o ano letivo começou "de verdade" (fato: escolas não funcionam de verdade antes do carnaval, ainda mais em tempos pandêmicos) e o trabalho está apertando.